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Life is a box of chocolates

Minha amiga Jô se mudou com a família. Foram morar – ela, o marido e a Rafinha, de um ano de idade - em cima da síndica. Que fumava. Embaixo do quarto da Rafinha. Que era alérgica. Sentiu cheiro de treta?

A Jô me ligou, com sangue nos olhos, “me ajuda a entrar com uma ação pra proibir minha vizinha de fumar dentro de casa”. “Não, miga. Faz o seguinte: compra uma caixa de bombom”.

Comecei a explorar o problema. Descobri que a vizinha também tinha uma bebezinha em casa e que não queria que ela convivesse com a fumaça do cigarro. Por isso ela só fumava em um cômodo da casa - justamente embaixo do quarto da Rafinha.

O que parecia pra Jô um cenário bélico, pra mim era o contexto ideal pra que elas se entendessem. As duas tinham filhas pequenas. As duas concordavam que as meninas deviam ficar longe do cigarro. As duas eram vizinhas. Quem quer investir em treta com vizinho?

Construí junto com a Jô um passo a passo pra que elas tivessem uma conversa produtiva e lá foi ela se apresentar pra vizinha. Levou munição pesada: bombom num braço, Rafinha no outro, sorriso nos lábios, coração acelerado. A Jô é boa de briga, não tava acostumada com esse tipo de abordagem.

Ela tocou a campainha e se apresentou. Apresentou a Rafinha. Conversaram sobre bebês. Conversaram sobre alergia. Tudo correu lindamente. Queria ser uma mosquinha pra ver a cena. Acho que as duas combinaram que a vizinha ia fumar na varanda da sala. Na verdade confesso que não me lembro do combinado. Fiquei tão focada no processo que esse detalhe me escapou. Só sei que as duas chegaram num ponto comum. Foram vizinhas felizes por muito tempo.

Imagem Pixabay

A história podia acabar aqui. Só que não. Meses depois daquele primeiro encontro, no meio de uma conversa qualquer, a Jô manda essa:

“Lembra da vizinha do cigarro? Cruzei com o marido dela no elevador. Tava felizão. Tem duas semanas que ela parou de fumar”.

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