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E quando o Mediador se senta na cadeira de Mediando?

Era uma tarde quando encontrei em um café, uma amiga também mediadora, que me trouxe o relato de como foi rica a sua experiência de vivenciar uma mediação de um caso seu pessoal e que compartilho abaixo com vocês:


“Mediadores são capacitados em diversas técnicas de negociação e de comunicação, já muito faladas aqui, tais como exercitar a escuta ativa, a empatia, estímulo a visão prospectiva dos mediandos e a incentivar as pessoas a retomarem as rédeas de suas vidas e a não delegar a decisão do seu futuro às mãos de um terceiro desconhecido.

Além disso, os mediadores no exercício de suas funções devem acolher os mediandos, legitimar suas questões, ser habilidosos com as palavras e expressões utilizadas, cuidar do equilíbrio entre as partes e serem imparciais especialmente aos olhos dos mediandos.

Foi dentro desse contexto, que eu, mediadora, me vi sentada na posição de medianda, o que digo ter sido uma das experiências mais incríveis, e difíceis, da minha vida.

Tudo começou quando me vi diante de uma situação pessoal delicada, a qual não estava dando conta de resolver sozinha e diretamente com a outra pessoa envolvida e sugeri que buscássemos o auxílio de um terceiro imparcial, um profissional com expertise naquele assunto, o que foi prontamente aceito pelo outro, já que tínhamos a mesma preocupação em preservar a boa relação que sempre tivemos, em especial pelos outros indiretamente envolvidos mas que seriam diretamente prejudicados caso essa nossa relação ficasse abalada.

E assim fizemos. Os primeiros encontros com o profissional foram ótimos, eu, na posição de medianda, me senti ouvida, com meus sentimentos acolhidos e interesses legitimados.

Foi quando num encontro senti que o “jogo virou”, que o profissional estava sendo totalmente tendencioso para o outro lado, o que culminou com o encerramento daquele encontro com a seguinte frase direcionada para mim pelo próprio: “Pois é, hoje a situação não ficou boa para você, né?”

Obviamente que saí daquele encontro extremamente reflexiva, passei dias analisando e relembrando cada palavra dita naquele fatídico último encontro, até que cheguei a uma conclusão e liguei para o outro envolvido e disse estar me sentindo injustiçada e que não voltaria mais a participar dos encontros, pois não precisava me submeter àquele tipo de situação.

Realmente sentar à mesa de uma mediação, na frente de um terceiro desconhecido, ao lado de uma pessoa com quem se está tendo questões extremamente delicadas e expor a sua vida, suas fraquezas e seus defeitos mais íntimos, não é nada fácil por si só.

E diante desse cenário, uma das maiores preocupações de um mediador é falar ou fazer algo que possa ser mal interpretado por uma das partes envolvidas, como por exemplo algo que deflagre uma sensação de parcialidade para algum lado, pois caso isso ocorra a mediação estará perdida.

Ocorre que o processo reflexivo acontece para além dos encontros de mediação. E isso pode se dar de várias formas, como por exemplo através de “deveres de casa” que são passados pelo mediador entre um encontro e outro para estimular algumas reflexões.

E foi exatamente isso que ocorreu no meu caso. Não obstante a minha primeira reação ter sido a de auto piedade e a de enxergar somente o meu lado, me veio à lembrança um pedido feito pelo profissional no tal último encontro para que eu escrevesse num papel todos os meus sentimentos, todas as minhas frustrações, desejos e visões acerca daquela situação que nos havia levado a procurá-lo.

Foi quando então comecei a escrever. E escrevi, mas escrevi muito, páginas e mais páginas.

Até que ao final daquele “livro” escrito por mim, comecei a ter um turbilhão de emoções misturadas e confusas, mas que aos poucos foram clareando, como se estivesse realmente “limpando o terreno”, tirando da frente coisas rasas e deixando apenas o que é realmente importante.

E nesse momento me foram vindo à lembrança algumas falas do outro envolvido, que naquele momento do encontro não fui capaz de exercer a tal da escuta ativa, ou seja, realmente não ouvia o que de fato ele estava falando, apenas me preocupava em me defender, em rebater, em contra argumentar tudo o que por ele era dito.

Da mesma forma também consegui ser empática e de fato me colocar no lugar do outro naquela posição que ele se encontrava e ao fim ter uma visão prospectiva e me questionar como eu queria me ver no futuro.

E por fim, voltei a participar dos encontros, com uma nova visão, sem todas aquelas mágoas que carregava no coração e com a possibilidade de retomar o diálogo para solucionar as questões que tínhamos e que ainda estavam por vir, da melhor forma possível e seguir em frente.

E o resultado dessa experiência foi a percepção (ou confirmação) de como é difícil nos colocarmos no lugar dos outros e enxergar aquela situação a partir de outra posição e com aquelas outras “lentes”, de como é difícil ouvir efetivamente o que o outro está querendo nos dizer, de como é difícil nos auto implicar, e também como é difícil decidir como vai ser aquela determinada questão daqui pra frente na nossa vida e se responsabilizar com as consequências deste decisão.

Não obstante todo o treinamento e capacitação dos mediadores, ficou ainda mais evidenciada minha responsabilidade como mediadora em auxiliar os mediandos nesse processo.”

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