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Onde está o cartão?



Em meados de janeiro de 2017, Joana procurou a mediação para resolver um conflito com suas duas irmãs, sobre a situação atual de sua mãe, que tinha descoberto há dois anos estar com Alzheimer. Segundo o seu relato, a irmã mais velha, Julieta, passou a cuidar das contas da mãe, contudo, se recusava a mostrar os extratos. Por esse motivo, Joana e Janaína passaram a desconfiar da administração de Julieta e queriam que ela não só prestasse contas, como deixasse de ser a responsável por isso. Julieta, por sua vez, afirmava que as suas irmãs sempre se eximiram de ajudar nos cuidados da mãe, e que ela estava sobrecarregada por ter que resolver todos os problemas: quando a mãe saía de casa, era ela que ia atrás; ela que levava a mãe ao médico, ao dentista, à igreja e a qualquer outro compromisso. Pelas razões expostas, quando Joana e Janaína perguntaram “Onde está o cartão da mamãe?”, Julieta se sentiu confrontada sobre a prestação de contas, acusada e traída pelas irmãs, que, além disso, nada faziam para ajudar. Por esse motivo, parou de falar com elas sem dar maiores explicações. Ela gostaria que as irmãs participassem mais da vida da mãe e dividissem as tarefas com ela. Janaína, que sempre teve uma boa relação com Julieta, revelou que as duas eram muito próximas, e que não tinha entendido porque a irmã não falava com ela quando ia visitar sua mãe, tendo em vista que morava no andar de cima. Na sua fala, deixava clara sua vontade de voltar a ser amiga da irmã, desde que houvesse a prestação de contas. Fizemos reuniões privadas com cada irmã, nas quais foram explicados os princípios da mediação, foram ouvidos os relatos sob cada ponto de vista e foram perguntados quais eram os objetivos de cada uma com a solução do conflito. Identificamos que a pauta subjetiva tinha grande relevância no caso, uma vez que a relação das três era baseada, até então, em um ótimo convívio e que retomar a amizade e o bem estar/qualidade de vida da mãe eram objetivos comuns. Até chegar a esses interesses convergentes, foram muitas sessões de mediação, pois inicialmente, cada uma estava cristalizada em sua posição, o que é muito comum em situações de conflito. As falas delas demonstraram quanto cada uma se sentia sobrecarregada, sem que pudessem se colocar no lugar das outras irmãs e até mesmo da mãe, para que a partir daí conseguissem identificar como cada uma estava se sentindo frente a essa nova realidade. Depois de aprofundarmos a pauta subjetiva e passarmos alguns exercícios para treinarem a empatia e possíveis reflexões, cada uma foi conseguindo alcançar os sentimentos das outras e entender o que ensejava uma ou outra atitude, diversa daquela esperada. Quando verdadeiramente entendemos o que o outro está sentindo, o que motivou sua reação, por exemplo, muitas vezes conseguimos compreendê-lo, e a partir daí pensarmos em alternativas que o atendam, foi exatamente assim que se deu nesse caso. As três entenderam que era importante o equilíbrio na contribuição de cada uma no cuidado para com a sua mãe, pois assim todas conseguiriam se doar de uma melhor forma, pois teriam tempo para se dedicarem a outras atividades, também importantes para realizações pessoais de cada. E assim se desenhou o acordo, as três se comprometeram a colocar uma cuidadora durante a semana e revezar além dos compromissos externos, como médicos, igreja, shopping, os finais de semana para cuidar da mãe, bem como participar da administração das contas em conjunto. Como na mediação trabalhamos com acordos de intenção, conseguimos ver claramente o comprometimento de cada mediando em transformar o que foi combinado em realidade, principalmente, no que se refere à relação. Nesse caso, ratificamos nossa prática, pois passado, mais ou menos, um ano da celebração do acordo, Joana nos procurou para dizer que a sua mãe estava ótima e que a relação dela com as irmãs estava ainda melhor. Além dessa excelente notícia, disse ter indicado a mediação para um amigo que estava brigando com seu sócio há anos.


Quando temos uma boa experiência, queremos que todos possam vivenciar a mesma sensação, não acham?

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