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Improvisando por aí ou: cinco atitudes que mediadores e improvisadores conhecem muito bem


Quem aí já assistiu um espetáculo de improvisação teatral? Tudo parece tão livre e sem amarras... Mas não. Cenas cocriadas por meio da improvisação apoiam-se em muitas técnicas e diretrizes e algumas delas são bastante familiares aos mediadores. E a mágica é que nem por isso perde-se a espontaneidade – muito pelo contrário.


Quando, tempos atrás, estudei improvisação - ou simplesmente impro, se me permitem o apelido carinhoso – fiquei fascinada em desvendar os mistérios da construção de cenas criadas coletivamente, que parecem surgir do nada, por milagre ou coincidência.


Tempos depois, quando estudei mediação, foi inevitável linkar esses saberes.


Resolvi fazer aqui um compilado de cinco atitudes que mediadores e improvisadores conhecem muito bem.


Vai que que algum mediador resolve se embrenhar pela impro ou vice-versa? Que saudades dos palcos...


1) Esteja presente


Tanto a mediação quanto a improvisação demandam um estado de presença especial, em que procuramos deixar nossa mente vazia de preocupações e elucubrações para nos permitirmos estar atentos a tudo que acontece a nossa volta. Precisamos estar preparados para escutar com atenção em vez de escutar pensando na nossa próxima fala ou intervenção. Essa escuta qualificada abrange até mesmo o não dito – estímulos como a linguagem corporal dos mediandos, a sua respiração e a reação da plateia merecem atenção e resposta.


2) Não crie expectativas – mantenha-se aberto ao inesperado


Não criar expectativas, não julgar, ser curioso sobre o outro e sobre o mundo certamente alimenta nosso estado de presença. Mediadores e improvisadores mantêm-se afastados – tanto quanto possível - de preconceitos, presunções, construções preconcebidas. Mediadores sabem que, a cada novo caso, veem desdobrar-se diante de si pessoas e relações únicas, diferentes daquilo que já conhecem. Improvisadores sabem que, para a construção coletiva de uma cena em tempo real, devem abandonar qualquer ideia premeditada e jogar com o que recebem de seus parceiros de cena. O que nos leva à próxima atitude: aceitação.


3) Aceite


Improvisadores dizem sim. Abraçam a proposta do parceiro de cena e acrescentam a ela outros elementos, de modo que o resultado é a cena cocriada. De forma similar, o mediador acolhe as ideias dos mediandos e os auxilia a costurá-las em um acordo cuja autoria é de todos os envolvidos no conflito.


Lembro quando um professor de impro propôs como tarefa de casa que os alunos dissessem “sim” sempre que possível durante um dia inteiro. “Sim” para o almoço no restaurante vegano, “sim” para acompanhar a mãe ao médico, “sim” para um filme diferente do habitual. Todos narraram experiências positivas ou no mínimo interessantes, que não teriam acontecido não fosse a especial disponibilidade para dizer “sim”.


4) Conecte-se


Mediadores e improvisadores sabem que seres humanos se fortalecem ao criar conexões. Por isso buscam conectar-se – com suas próprias emoções, com o parceiro de cena, com os mediandos, com a plateia. E, por óbvio, ao promover o diálogo, mediadores atuam sobre as conexões entre os mediandos. Uma conexão verdadeira demanda não só honestidade como também uma posição de vulnerabilidade – no sentido da disposição de estar desarmado, de ser autêntico, de correr riscos. A vulnerabilidade, nesse contexto, é força.


Improvisadores experientes sabem que, em cena, mais vale ser autêntico que tentar ser engraçado. Mediadores experientes conhecem a importância do momento em que os mediandos baixam as armas e se permitem alcançar um novo nível de conexão.




5) Acredite na complementaridade

Todos têm algo a ensinar, algo a trazer à mesa – ou ao palco. Uns são bons em criar personagens; outros, em “amarrar” as histórias. Um pai e uma mãe, sentados à mesa de negociação, aportarão diferentes formas de negociar, de comunicar-se, e de olhar para os filhos, e o mediador saberá que todas são válidas e importantes. Na mediação, como na improvisação, vai mais longe aquele que deixa de lado o espírito competitivo e acredita na complementaridade dos saberes.


A conversa sobre mediação e improvisação dá pano pra manga, e, pra seguir com ela, deixo vocês com esse post da Kim Quindley, em que ela traz 30 lições de impro para uma vida mais feliz: https://thoughtcatalog.com/kim-quindlen/2016/01/30-one-sentence-improv-lessons-anybody-can-practice-to-live-a-happier-life/.



Até a próxima!

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