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Mediação e Maternidade: um caminho comum


Já faz um tempo que estas duas funções encontram morada em mim. A mediação há quase duas décadas e, mais recentemente, a maternidade. Conseguir relacionar as duas na vida pode ser um desafio e nesse caminhar descobri que ambas têm muito em comum, mais que imaginava. Talvez seja um "cacoete" de mediadora sempre buscar algo que possa ser um caminho comum quando o conflito aparece. E, nessa reflexão, percebi o quanto a mediação e a maternidade são parecidas.


A começar pelo significante do cuidado. Tanto na mediação quanto na maternidade o cuidado está presente: com a pessoa, com o ambiente de acolhimento, com a linguagem... Sem cuidado, nenhuma mediação consegue evoluir, tampouco um pequenino ser humano.


Outro ponto muito importante foi ver o quanto a observação e a comunicação não verbal são imprescindíveis para interagir nas duas funções. Tanto em uma como em outra é preciso exercitar a compreensão para além das palavras. Como um gesto ou um olhar podem dizer tanto? Como podemos reconhecer um choro de fome e diferenciá-lo de um choro de dor ou desconforto? Como podemos reconhecer a dor do outro por detrás de um sorriso?


Lembrando de William Ury, ser mediador é presença, escutar a partir de outro foco. Talvez esse seja o mais difícil elo entre mediação e maternidade. Estar presente como um instrumento na construção de uma relação sem julgamentos, sem impor sua forma de pensar ou seus desejos ou sua verdade é fundamental na mediação. Na maternidade, estar presente como instrumento que apoia o desenvolvimento de uma criança, sem projetar nela suas próprias questões é a chave para o surgimento de um sujeito autônomo e crítico. De forma mais poética, Khalil Gibran escreve que os filhos não nos pertencem, devemos ser instrumentos para prepará-los e entregá-los para o mundo. O respeito à autonomia dos mediandos ou dos filhos faz da função de mediadora ou de mãe um grande desafio, que a prática revela no seu cotidiano.


Talvez o ponto mais belo deste caminho comum seja o amor. Warat escreve sobre a importância de inserir a dimensão amorosa no conflito, sentir, reencontrar com o outro, respeitando sua autonomia. O amor, para Warat, é a essência da mediação. E, qual o papel que o amor pode ter na maternidade, senão a essência de ser?


Pensando em outros grandes mediadores, além de Warat, como Six e Vezzulla, que compreendem a mediação como uma forma de ver/viver o mundo, é fácil estabelecer uma relação, ou seja, viver a mediação inclusive na maternidade! E, como um lampejo, o caminho comum se ilumina: que bela oportunidade a maternidade se torna para exercitar a observação, a comunicação, o amor, o cuidado com o outro, respeitando sua autonomia!



*Mediadora de Conflitos desde 2005, Consultora Jurídica em Meio Ambiente e professora de Direito Ambiental e de Mediação de Conflitos, pós graduada em Democracia Participativa pela UFMG, mestre em Ciência Ambiental pela USP, autora dos Livros "Licença Ambiental: uma contribuição para a concretização do princípio do desenvolvimento sustentável” e "Mediação de Conflitos Ambientais - Um novo caminho para a Governança da ÁGUA no Brasil? Curitiba: Juruá, 2010. Também escreve artigos para revistas e sites especializados em Mediação e Direito Ambiental. Integrante e co-fundadora do Grupo Avançado de Mediadores Institucionais - GAMEI, coordenadora do Núcleo de Mediação da Adasa - Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal de 2012 a 2016.

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