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O casamento com a Defensoria, a paixão pela Mediação e um convite


Não sei se todos os leitores já sabem, mas sou Defensora Pública, além de mediadora em formação – sim, em formação, porque, mesmo com tantos cursos e capacitações, acumulando tantas horas de prática, se tem uma coisa que aprendi trabalhando e estudando mediação é que nunca me sentirei totalmente pronta.


As inquietudes, as dúvidas, a vontade de aprender mais, de aprimorar a prática e de consolidar os ensinamentos teóricos fazem parte do que entendo formar o meu “ser mediador”.


Dito isso, gostaria de usar este espaço para, livre e despretensiosamente, compartilhar com vocês uma experiência recente em que a Larissa – Defensora Pública – atuou em um caso sem deixar de lado, é claro, a essência da Larissa- Mediadora -, qual seja: a escuta, o estado de presença e o acolhimento.


Muitos alunos e amigos me perguntam como faço para separar as “Larissas”. Essa é uma curiosidade de muitos e uma reflexão que venho fazendo desde que a mediação me arrebatou no ano de 2010. E lá se vão 10 (dez) anos em que fui tomada por essa paixão que, deliciosamente, invadiu a minha vida e que “quase” colocou em risco meu casamento estável com o Direito e a Defensoria.


E quando eu digo “quase” é porque, assim como acontece com muita gente que inicia no “mundo da mediação”, eu senti muita vontade de me dedicar inteiramente a esse universo e de viver só nele. As coisas em volta pareciam não fazer mais muito sentido: o sistema de justiça tal como é concebido atualmente; o meu próprio trabalho na Defensoria; as audiências judiciais em série; as cobranças por números, desempenho e estatística, e mais uma série de questionamentos sobre “a qualidade da Justiça” que todos nós estávamos entregando para aquelas pessoas que nos procuravam. Tudo passou a ser alvo de questionamento e até de uma certa indignação.


Certo é que depois que fui apresentada a essa nova forma de se “fazer justiça”, aquele velho normal já parecia ultrapassado e antiquado quando visto pelas minhas novas lentes.


Foi em razão desse aparente choque de realidades e desses dois mundos que aparentavam ser tão antagônicos que me vi diante de um impasse. Mas, a essa altura, eu também já tinha sido apresentada à chamada Teoria Moderna do Conflito, tão bem preconizada por Morton Deutsch, que nos brinda com a ideia de que o conflito tem sua funcionalidade e deve ser encarado como uma bela janela de oportunidade.


E foi assim que resolvi transformar esse momento de inquietude e de muitos conflitos internos. Eu pensei:


“Tudo que aprendi, que li, que vivi com a mediação me transformou e me trouxe muitas novas perspectivas. Além disso, a mediação me fez acreditar que é possível fazer diferente e, mais do que isso, que é possível fazer a diferença.”


Ora, com tantos aprendizados sobre escuta empática, acolhimento, construção de consenso, cultura da paz, eu haveria de poder agregar tudo isso à minha vida pessoal e profissional, fazendo com que esse novo olhar se tornasse parte de mim.


Naturalmente que, ao exercer o meu papel de mediadora, nenhum resquício da Defensora Pública haveria de transparecer – aliás, saber se “descolar” da nossa profissão de origem é mais do que uma necessidade: é quase uma obrigação do ser mediador.


O “ser mediador”, que, segundo os ensinamentos do meu querido mestre, professor e amigo Juan Carlos Vezzulla, deve, antes de tudo, não saber. Afinal, o saber que nos interessa numa mediação é tão somente o dos mediandos.


Se a Larissa Mediadora sabe que “não deve saber”, o mesmo não poderia ser dito da Larissa Defensora, de quem é cobrado que saiba de tudo, acima de tudo. Mas será que a Defensora não poderia, na maioria das vezes, andar bem juntinho com a Mediadora? Por que não?


E por que estaria eu dizendo tudo isso para vocês ?


Talvez seja para que eu mesma me lembre disso... ou.... para que eu introduza a história que deu origem ao título. Ou quem sabe pelos dois motivos ?


Com tantos anos atuando como Defensora e trabalhando com Direito de Família, sobretudo atendendo pessoas destroçadas por rupturas e separações, fragilizadas emocionalmente, posso lhes dizer que se há duas ações judiciais que me causam verdadeiro arrepio são:


- Ação de Alimentos Gravídicos e

- Ação de Busca e Apreensão de Menores.


A primeira trata- se de uma ação ajuizada por uma gestante que pretende que o suposto pai do bebê seja instado, desde já, a contribuir com o bom andamento de sua gravidez para cobrir despesas com o pré-natal e, portanto, com o bem estar do filho mesmo antes de seu nascimento.


A segunda é prevista para aquelas hipóteses em que a criança, por alguma razão, não é entregue a quem de direito no horário ou dia estabelecido, fazendo com que, por meio da força judicial e policial, essa criança seja entregue e retorne ao seu guardião.


Meu novo olhar, sob novas lentes, me faz enxergar que essas duas ações, entre tantas outras, representam uma falência de todos nós, que falhamos na nossa tentativa como sociedade de resolver nossos problemas por meio de uma arte milenar, tão simples quanto complexa: a arte de DIALOGAR.


O grande problema é que, com nossas falhas e fracassos, nesses dois casos acima citados, acabamos por expor quem mais queremos proteger – as crianças que serão “apreendidas” (vejam só) e os bebês que, mesmo antes de nascer e de conhecer o pai, já estão em litígio com ele.


E foi assim, movida por esse espírito, que, ao me deparar com uma petição de Alimentos Gravídicos, resolvi que, antes do ajuizamento, deveria conhecer a mãe gestante e o futuro pai. Queria uma oportunidade de conversar com eles, conhecer a história de cada um e ouvir um pouco sobre eles...


Queria poder olhar nos olhos deles e lhes fazer um convite.

Que convite foi esse? Como foi esse encontro? Não perca meu próximo post. Prometo que conto tudinho!

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