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O tempo não para: para as famílias e para os profissionais que as atendem



Cristina Rafaela*




A vida muda. Se tem algo que nos faz impotentes é o passar do tempo. Para cada ciclo da vida, um desafio novo é apresentado. Para famílias, é importante a adaptação para cada fase. O casamento, a chegada do primeiro filho, a primeira infância, a adolescência, a chegada do filho para vida adulta, a madurez e a aposentadoria e, por que não, a morte.

A complexidade das transições da vida, as perdas e os lutos - todos fazem parte do nosso desenvolvimento humano. Ao mesmo tempo, nossa sociedade também está em transformação e constante adaptação, de forma que suas mudanças também vão impactar o funcionamento familiar. Quando uma família - não importando se uniparental, recasada ou "tradicional" - tem dificuldade em prosseguir nesse desenvolvimento, é comum apresentar um grande estresse e o surgimento de conflitos interpessoais.


Atendi em consultório uma mãe que reclamava do comportamento de seu filho de 13 anos. Com o passar das sessões, ela trouxe que ainda levava, na cama, para o filho, um copo com leite quentinho todas as manhãs; também o enxugava, devotadamente, após o banho. Claramente essa mãe tinha dificuldade de perceber que o seu "bebê" crescera, que já nem era um menino, mas um rapaz em desenvolvimento; que, naturalmente, iria depender cada vez menos dela, buscando para o seu repertório emocional amigos e talvez as primeiras namoradas. Aceitar o adolescer do filho significava olhar também para o vazio que fora preenchido com uma dedicação incansável e exclusiva para os filhos.


A maneira como as pessoas passam pela transição do ciclo de vida pode repercutir inclusive em outras gerações. Um luto mal resolvido ou um processo sucessório conflituoso, dois exemplos bem comuns, podem causar rompimentos, tensões e sintomas nos filhos, irmãos, primos e netos. Para que a família possa prosseguir em seu desenvolvimento emocional, é necessário que o profissional que a esteja atendendo, seja na qualidade jurídica seja na terapêutica, conduza seus esforços a fim de que essa família consiga se reorganizar.


As mudanças que nosso século traz nos convida a visões inovadoras para dar apoio e assistência profissionais nos mais diversos campos de atuação. A expectativa de vida mais longa, o empoderamento feminino, o índice cada vez mais alto de divórcios e recasamentos, a diversidade de composição familiar, fertilização in vitro, adoções por progenitores solteiros, parceiros que vivem juntos sem se casar, pessoas que preferem ficar sozinhas.


É importante que os profissionais que trabalham diretamente com as famílias - mediadores, terapeutas, professores, advogados, médicos etc. - compreendam os pontos de tensão das mudanças de cada fase, dentro de um tempo em que as mudanças sociais também vêm em ritmo acelerado, exigindo atualização de paradigmas.


O profissional do século vinte e um necessita de humanização e perspectiva temporal para abdicar de padrões e despir-se de uma roupagem que não abriga a complexidade das famílias atuais. Dessa forma, será mais fácil ajudar as pessoas a manejarem seus conflitos e tensões inerentes às mudanças de vida.


* Cristina Rafaela é Terapeuta Sistêmica - atende indivíduos, casais e famílias. É Supervisora de Núcleo-Pesquisas/RJ. Facilita grupos de acolhimento, rodas de conversa e treinamentos em empresas. É mediadora de conflitos, facilitadora de diálogos com ênfase em Comunicação Não-Violenta. Especialista em Ajuda Humanitária pela PUC-Rio (2013). Educadora e consultora parental. Especialista em Direito Sistêmico (2018).


REFERÊNCIAS


● CARTER, Elizabeth A.; MCGOLDRICK, Monica. As mudanças no ciclo da vida familiar: uma estrutura para a terapia familiar. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. 510p.

● BRUN, Gladis. Os meus, os teus, os nossos: lidando com os desafios da família moderna. 2. ed. São Paulo: Larousse do Brasil, 2010.

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